CIRES PEREIRA
Faltam poucos dias para completar um mês a guerra entre os governos do Hamas e de Israel em Gaza (área governada pelo Hamas desde 2006, a outra área palestina - a Cisjordânia - é governada pelo Fatah sob a liderança do Presidente da Autoridade Palestina - Mahmoud Abbas). Esta é uma guerra assimétrica, pois já matou 1.362 (56 do lado israelense, sendo 53 soldados e 3 civis e 1.296 do lado palestino, sendo mais de 70% constituídos por pessoas indefesas). O número de pessoas feridas supera 7.200 e o número de refugiados e/ou deslocados passa de cem mil palestinos.
O Hamas e o Fatah são as principais organizações na Palestina. Diferentemente do Fatah (favorável à preservação dos Estados de Israel e da Palestina na região), o Hamas - sigla de Movimento de Resistência Islâmica - tem um objetivo: a criação de um único Estado palestino que ocuparia a área onde hoje estão Israel, a Faixa de Gaza e a Cisjordânia. Para tanto é imperativo a luta armada contra Israel, a cargo de seu braço militar, as brigadas Al-Qassam.
O governo israelense é controlado desde 2009 pelos membros do Likud, um partido mais conservador e menos propenso à negociação com a Autoridade Palestina. A principal alegação é que o Fatah (controla a Cisjordânia) não consegue conter o Hamas (hegemônico em Gaza). Este partido tem maioria no "Knesset", -o parlamento israelense - o Primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, e o Presidente (cargo meramente simbólico), Reuven Rivlin, ambos do Likud.
O governo israelense é controlado desde 2009 pelos membros do Likud, um partido mais conservador e menos propenso à negociação com a Autoridade Palestina. A principal alegação é que o Fatah (controla a Cisjordânia) não consegue conter o Hamas (hegemônico em Gaza). Este partido tem maioria no "Knesset", -o parlamento israelense - o Primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, e o Presidente (cargo meramente simbólico), Reuven Rivlin, ambos do Likud.
Alegando que o Hamas sequer respeitara o cessar-fogo proposto pelo grupo, o governo de Israel decidiu intensificar seus ataques por ar e por terra. Nas últimas 48 horas foram contabilizadas 150 mortos em Gaza. Os moradores de Gaza não tem mais como e onde se refugiar, as tropas israelenses não tem poupado escolas, hospitais e campos de refugiados mantidos pela ONU.
UM CONTUNDENTE CRIME CONTRA A HUMANIDADE
O porta-voz da UNRWA (Agência para Refugiados da ONU), Chris Gunness, disse nesta quarta-feira (30.07), que houve um ataque à uma escola de refugiados em Gaza provocando a morte de pelo menos 15 pessoas. Disse ainda que as tropas israelenses foram por 17 vezes, antes do ataque, informadas de que tratava de uma escola usada como abrigo para civis refugiados. Outro funcionário da UNRWA, Bob Turner, disse não ter dúvidas de que foram os israelenses. Por seu turno, Israel contra argumenta dizendo que se tratou de uma reação aos ataques do Hamas nas proximidades da escola. Mais sério ainda é que este crime não é inusitado nesta guerra, na semana passada o Conselho dos Direitos Humanos da ONU tomou como fatos determinados ataques israelenses sobre indefesos em escolas da ONU que servem de refúgio, dependências hoteleiras e dependências hospitalares para adotar uma resolução condenando o Estado de Israel por suas incursões militares e deliberou a constituição de uma comissão para investigar crimes e violações do direito internacional em Gaza.
Neste momento em que a tensão na região aumenta, pois Israel usa suas "garras mais potentes" contra o inimigo, o governo inglês reage justificando que não há outra alternativa pra lidar com o terrorismo (os governos israelense, americano e inglês consideram o Hamas uma organização terrorista). Para os ingleses é legítimo que Israel se defenda dos ataques do Hamas. Os especialistas, entretanto, argumentam que a reação de Israel, no afã de destruir o poder de fogo do Hamas, tem sido desproporcional. Os resultados não poderiam ser outros: destruição, mortes de indefesos, comprometimento das condições mínimas de sobrevivência para 1.800.000 pessoas em Gaza e o ódio que tende a aumentar, um importante combustível para mais terrorismo.
Diante deste quadro é cada vez mais provável que o terrorismo internacional se intensifique, o que leva a uma crescente insegurança das pessoas. Um cenário marcado pela insegurança é também um cenário muito lucrativo para as empresas seguradoras, para as indústrias de segurança, para a indústria armamentista, para os serviços de inteligência a serviço dos governos. Os bancos ganham com tudo isto, pois são potenciais credores de governos que tendem a destinar mais recursos para as áreas de defesa, de inteligência e militar. Levando-os a captarem recursos emitindo novos títulos da dívida ou a postergarem os pagamentos de títulos a vencer.
Mas o desdobramento mais pernicioso, certamente, é a manutenção do critério "segurança" como mais importante para a escolha de governos, mesmo que um aspirante ao governo não tenha um bom programa de governo, mesmo que seja um despreparado para governar, ele tem grandes chances de se eleger. Assim, lamentavelmente, os eleitores continuarão elegendo governantes e parlamentares que comumente valem-se da truculência para serem respeitados, como fizeram os israelenses escolhendo Benjamin Netanyahu para governar.
A REAÇÃO DAS POTÊNCIAS OCIDENTAIS
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François Hollande, Obama, Angela Merkel e David Cameron |
A posição da Inglaterra muito se semelha à dos
EUA. É improvável que o governo britânico faça um "mea culpa",
reconhecendo que muitos problemas poderiam ter sido evitado se as
potências (como ela) tivessem contido o ímpeto israelense sobre
Cisjordânia, Gaza, Golã, Sinai e Jerusalém, neste momento em que a
tensão na região aumenta. Inglaterra sempre teve uma posição favorável
ao Estado de Israel na região, seu governo foi um dos protagonistas, ao
lado dos EUA e da ONU, para a materialização do projeto sionista.
Quantos armamentos foram fornecidos, quantas vistas grossas aos abusos na região, quanta cooperação com Israel.
Não esqueçamos das constantes intromissões dos ingleses e dos americanos na
região que levaram a instalação de governos ditatoriais e submissos ao
"Ocidente", como foi o caso da Operação Ajax que no Irã substituiu o governo eleito pelo povo liderado por Muhammad Moussadegh pelo governo do Xá Reza Pahlavi em 1953. Os apoios providenciais destas potências aos regimes ditatoriais no Iraque, na Arábia Saudita, nos Emirados Árabes Unidos e outras tantas ditaduras no norte da África.
Inglaterra, França e Alemanha sempre se posicionam favoráveis aos israelenses. No Conselho de Segurança da ONU se negaram a aprovar sanções contra Israel e no Conselho dos Direitos Humanos da ONU abstiveram-se de votar a resolução contra Israel que criou uma comissão para averiguar os crimes cometidos contra os direitos humanos em Gaza nesta guerra. Nesta votação os EUA foram mais longe ainda, votaram contra a criação da comissão de investigação contra os israelenses.
Como é preciso demonstrar preocupação e pesar diante da situação dos palestinos, provavelmente para diminuírem o peso em suas suas consciências, os governos inglês, francês e estadunidense oferecem algumas migalhas em dinheiro.
O primeiro-ministro britânico, David Cameron disse nesta quarta que enviará uma ajuda de três milhões de libras para Gaza. Com estes recursos mais os quase nove milhões de libras repassados anteriormente o governo inglês já doou quase 12 milhões de libras. Segundo Cameron esta ajuda assegura que "a população de Gaza tenha as necessidades básicas para
viver: comida, albergues e a assistência que necessita".
O governo dos EUA anunciou recursos financeiros para ajuda humanitária. John Kerry, secretário de Estado dos Estados Unidos, anunciou no dia 21 uma
ajuda humanitária de US$ 47 milhões aos
palestinos afetados pela ofensiva israelense na Faixa de Gaza.
O presidente francês François Hollande anunciou quinta-feira uma ajuda
humanitária de 11 milhões de euros.
Os governos do Japão e da Alemanha provavelmente serão os próximos a anunciarem "recursos humanitários", também esperançosos de que suas abstenções no "Conselho de Direitos Humanos da ONU" sejam esquecidas pelos moradores de Gaza.
As potências ocidentais batem com uma mão e assopram com a outra.
A pusilanimidade destas potências contrasta com a posição firme do governo brasileiro contra a reação desproporcional das tropas israelenses em Gaza.
Durante reunião do Mercosul, o Brasil incluiu na pauta a necessidade de discutir uma resposta firme ao governo de Israel. A cúpula em Caracas também vem em boa hora para que os países da América do Sul se unam em defesa do Brasil e contra a ofensa de Israel. Vários governos na região, incluindo o brasileiro, o argentino e o chileno, determinaram o retorno de seus embaixadores, numa manifestação de descontentamento com Israel.
As potências ocidentais batem com uma mão e assopram com a outra.
A pusilanimidade destas potências contrasta com a posição firme do governo brasileiro contra a reação desproporcional das tropas israelenses em Gaza.
Durante reunião do Mercosul, o Brasil incluiu na pauta a necessidade de discutir uma resposta firme ao governo de Israel. A cúpula em Caracas também vem em boa hora para que os países da América do Sul se unam em defesa do Brasil e contra a ofensa de Israel. Vários governos na região, incluindo o brasileiro, o argentino e o chileno, determinaram o retorno de seus embaixadores, numa manifestação de descontentamento com Israel.
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