Cires Pereira - Outubro de 2013
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"Giganto" de Raquel Brust |
“Giganto”,
concebido pela jornalista e fotógrafa Raquel Brust, é um belo projeto
que consiste na exposição de fotografias hiperdimensionadas com seis
metros de altura em espaços públicos com o intuito de “quebrar” a
paisagem urbana e interagir com as pessoas.
O
projeto se propõe a induzir uma interação entre a obra e o espectador,
onde ambos se confundem numa simbiose harmoniosa. Uma série de 20
fotografias de moradores da região central de São Paulo foram expostas
no “Minhocão”, no trecho da Avenida Amaral Gurgel e algumas colunas do
trecho da Avenida São João. Ficam expostas até janeiro de 2014. Para os
que não residem em São Paulo e para os paulistanos que não usam o
trecho, recomendo que conheçam de perto o projeto.
No site deste projeto (http://projetogiganto.com/about/) consta uma explicação breve sobre a natureza e os objetivos do projeto:
“Cada
Giganto é único, pois o local onde será instalado inspira o tema e
conduz a pesquisa pelos personagens. Diluindo barreiras entre arte,
antropologia visual e intervenção urbana, o projeto propõe captar a
potência dos olhares e revelar a essência dos retratados. Transformar
pessoas comuns em “gigantos” é um processo que exige intimidade e se
orienta pela valorização do indivíduo, de sua identidade e de sua
memória. Para aqueles que participam do processo o retorno é imediato,
tanto para os que estão envolvidos na produção e execução do projeto
quanto para os que convivem com a obra. A paisagem é alterada e a arte é
inserida no cotidiano da cidade, o que democratiza o acesso à cultura.
Há uma ruptura na rotina e instantes de poesia são inseridos na vida das
pessoas que caminham míopes pelas ruas. Enquanto todos fazem parte de
uma massa única e sem rosto, um Giganto é inserido como um alerta de que
há complexidade em cada unidade, que há uma família em cada janela, de
que cada um é único e merece atenção. Essa fotografia olha para o
espectador, e o faz questionar sobre o cenário que está inserido”.
Muito
provavelmente os espectadores se identificam com as pessoas retratadas,
logo se emocionam e se conscientizam, os objetivos do projeto já são
rapidamente atingidos. Comumente nestes espaços pessoas e automóveis se
deslocam e, outras até vivem. Como o concreto, a velocidade, o barulho e
os cheiros cada vez mais repulsivos são predominantes, estas pessoas
por ali passam e/ou vivem involuntariamente.
Com o projeto “Giganto” duas possibilidades se abrem, a primeira e imediata é a percepção do outro e a destilação do belo mesmo em coisas esteticamente feias e a segunda a conscientização das pessoas de que os espaços urbanos precisam ser reconquistados em todos os sentidos pelas pessoas que desejam viver melhor.
Com o projeto “Giganto” duas possibilidades se abrem, a primeira e imediata é a percepção do outro e a destilação do belo mesmo em coisas esteticamente feias e a segunda a conscientização das pessoas de que os espaços urbanos precisam ser reconquistados em todos os sentidos pelas pessoas que desejam viver melhor.
Antes
de completar uma semana uma destas fotos amanheceu nesta quarta, dia 23
de outubro, pichada. É mais um trabalho concebido para alegrar e
conscientizar pessoas e embelezar uma cidade que vira alvo de
depredação.
O
que aconteceu esta noite, infelizmente não é um caso isolado, desde
setembro que pichações têm maculado importantes monumentos e verdadeiros
cartões-postais da cidade de São Paulo. Os casos mais famosos foram O
Monumento às Bandeiras e o MASP.
O
“Monumento às Bandeiras” que, durante protestos realizados por
indígenas nos dias 1 e 2 de outubro, foi pichado com uma tintas vermelha
e branca. A
obra do escultor ítalo-brasileiro Victor Brecheret, que já foi alvo de
outras pichações, fica ao lado do Parque Ibirapuera e próxima a
Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

Pelo
texto, caberá ao Congresso Nacional aprovar proposta de demarcação
enviada pela Fundação Nacional do Índio (Funai). Esta incumbência, pela
lei anterior, é do Ministério da Justiça que determina a demarcação
tendo por base estudos feitos pela Funai (Fundação Nacional do Índio).

"Alguns
apoiadores não-indígenas entenderam a força do nosso ato simbólico, e
pintaram com tinta vermelha o monumento. Apesar da crítica de alguns, as
imagens publicadas nos jornais falam por si só: com esse gesto, eles
nos ajudaram a transformar o corpo dessa obra ao menos por um dia. Ela
deixou de ser pedra e sangrou. Deixou de ser um monumento em homenagem
aos genocidas que dizimaram nosso povo e transformou-se em um monumento à
nossa resistência. Ocupado por nossos guerreiros xondaro, por nossas
mulheres e crianças, esse novo monumento tornou viva a bonita e sofrida
história de nosso povo, dando um grito a todos que queiram ouvir: que
cesse de uma vez por todas o derramamento de sangue indígena no país!
Foi apenas nesse momento que esta estátua tornou-se um verdadeiro
patrimônio público, pois deixou de servir apenas ao simbolismo
colonizador das elites para dar voz a nós indígenas, que somos a parcela
originária da sociedade brasileira".
Ficamos
muito tristes com a reação de alguns que acham que a homenagem a esses
genocidas é uma obra de arte, e que vale mais que as nossas vidas. Como
pode essa estátua ser considerada patrimônio de todos, se homenageia o
genocídio daqueles que fazem parte da sociedade brasileira e de sua vida
pública? Que tipo de sociedade realiza tributos a genocidas diante de
seus sobreviventes? Apenas aquelas que continuam a praticá-lo no
presente. Esse monumento para nós representa a morte. E para nós, arte é
a outra coisa. Ela não serve para contemplar pedras, mas para
transformar corpos e espíritos. Para nós, arte é o corpo transformado em
vida e liberdade e foi isso que se realizou nessa intervenção.
Aguyjevete pra todos que lutam!
Embora
não saiba se esta Carta resultou de um amplo consentimento da
comunidade indígena, reconheço e concordo com argumentos expressos na
Carta. Todavia rechaço com igual veemência a ação terrorista bem como
os que concordam e justificam este tipo de ação, do contrário estaria
sugerindo que o Estado Brasileiro não devesse criminalizar atitudes
semelhantes contra os nossos irmãos povos indígenas espalhados em nosso
País. As comunidades indígenas precisam ser respeitadas e tenho certeza
que a maioria do povo indígena repudia atitudes como estas.
AGRESSÃO AO MASP
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Uma das colunas do MASP pichada |
As
colunas do MASP, na Avenida Paulista, pichadas, pela segunda vez em
menos de um mês, neste sábado dia 19 de outubro, com os dizeres “Punks
contra o racismo”, o que não quer dizer que tenha sido um punk o autor
das pichações. Certamente
as pessoas, os movimentos e as organizações da sociedade civil que
combatem todo tipo de segregacionismo, incluindo o de ordem racial
repudiam "manifestações" desta estirpe.
A edifício, projetado por Lina Bo Bardi, tem
11.000 metros quadrados e dividido em 5 pavimentos e com um vão livre
de 74 metros é uma das referências artística e turística de São Paulo.
Por tudo isso, em 1982, foi "tombado" pelo CONDEPHAAT – Conselho de
Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do
Estado e, em 2003, "tombado" pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional.
É
preciso esclarecer que a grande maioria da sociedade repudia com
veemência atitudes como estas, que não são uma particularidade
brasileira. Por outro é igualmente importante afirmar que os culpados
precisam ser identificados e precisam responder criminalmente. Estas
ações criminosas e covardes contra o patrimônio cultural são
esteticamente repreensíveis, conspiram contra a inteligência,
desrespeitam os direitos autorais de seus conceptores e a coletividade e
maculam a memória e a cultura de uma sociedade. Insisto seus autores
não podem ficar impunes, pois a impunidade estimula novas agressões que
são danosas à cultura e à educação de um povo.
MASP - Museu de Arte de São Paulo |
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