CIRES PEREIRA
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Michelangelo 1475 - 1564 |
A Capela Magna foi restaurada entre 1477 e 1480 e inaugurada em 1483 durante o Pontificado de Sisto IV (1471-1484). Seu sobrinho, que também tornou-se Papa (Julio II) mudou o nome da Capela homenageando o tio (Papa Sisto IV) passando a ser denominada "Capela Sistina". Situada no "Palácio do Vaticano", a Capela tem aproximadamente 540 metros quadrados e um pouco mais de 20 metros de altura, desde então tem sido palco das eleições pontificiais.
No seu interior deparamos com dois grandes afrescos*: "A Criação de Adão" e o "Juízo Final". Afrescos que certamente encontram-se em todas as listagens de obras artísticas mais significativas da história das artes. Ambos concebidos pelo florentino Michelangelo Buonarroti, nascido no ano de 1475. O artista faleceu 89 anos depois em Roma. Michelangelo integrou um amplo movimento cultural europeu situado na passagem do Período Medieval para o Período Moderno, denominado Renascimento Cultural. O movimento defendia o racionalismo, o antropocentrismo, individualismo e realismo a partir da rejeição aos principais pilares da cultura medieval concebidos segundo as conveniências do pensamento e autoridade cristão, a saber; o teocentrismo, o dogmatismo e o misticismo.
*Afresco é uma técnica de pintura mural, executada sobre uma base de gesso ou nata de cal ainda úmida sobre a qual se aplica pigmentos puros diluídos somente em água. Dessa forma, as cores penetram no revestimento e, ao secarem, passam a integrar a superfície em que foram aplicadas.
A "Criação de Adão" foi retratada na parte central do teto entre 1508 e 1512 medindo 280 cm por 570 cm, a obra é uma espécie de catarse de um conjunto de passagens do Antigo Testamento retratadas pelo artista, durante o pontificado do Julio II (1503-1513). O "Juízo Final", adorna toda a parede do altar, medindo 13,7 metros de largura por 12,2 metros de altura teve início em 1536 e concluída em 1541 durante o pontificado do Papa Paulo III (1534-1549).
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"Juízo Final" afresco ao fundo |
No Velho Testamento, no livro de Gênesis, há um relato sobre como Deus criou o mundo. No princípio Deus criou os céus e a terra, fazendo a separação entre luz e trevas. No capítulo 1 e versículo 2, explica muito bem esse acontecimento, a terra era sem forma e vazia. Esse princípio faz referência ao universo, ou seja, começa a origem da matéria e a noção de tempo, a expressão “forma e vazia”, remete ao nada, pois somente havia vácuo. No segundo dia criou o firmamento sobre as águas, denominado céu. No terceiro dia Deus separou as águas e a terra, determinando que a terra produzisse árvores frutíferas. As estrelas foram criadas no quarto dia, o Sol iluminando a terra durante o dia e as estrelas que também iluminando a terra durante a noite. No quinto dia Deus criou todas as espécies de animais, as aves, os aquáticos e os répteis.
No sexto dia, Deus ordenou a terra produzir os seres vivos conforme a sua espécie. E assim, criou o ser humano. “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança e que ele tenha controle sobre todos os animais.” Então o homem foi criado do pó da terra e nas suas narinas Deus soprou o fôlego de vida. A mulher foi formada pela costela do homem, também conforme a sua imagem e semelhança. No sétimo dia Deus contemplou Sua obra.
"A Criação" de Michelangelo
Ao voltar a Roma em 1508 Michelangelo recebeu uma encomenda do Papa Julio II que não lhe agradou, decorar a abóbada da Capela Sistina. Michelangelo nunca escondeu sua predileção pela escultura. Felizmente para a história da Arte, o mestre não conseguiu desvencilhar-se dos caprichos de Julio II e começou a produzir os afrescos da Capela Sistina.
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Papa Julio II - Raphael Sânzio |
Deus é retratado na forma humana, um senhor com cabelos acinzentados, parcialmente encoberto por um pano branco é ladeado por anjos. Algo intrigante é a retratação de um corpo de uma mulher, semi coberta pelo corpo de Deus. Mesmo que Eva tenha sido criada a partir da costela de Adão, muitos poderiam intuir de que se trata da própria Eva.
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"A Criação de Adão" de Michelangelo |
Diante de Deus deparamos com Adão, retratado no mesmo plano e na mesma altura do "Criador" parece querer compreender a criação, pois seu olhar não necessariamente indica um olhar de mera veneração, parece-me ser mais investigativo e inquiridor. O ser humano, na perspectiva renascentista, diferencia-se dos demais seres vivos porque possui as faculdades de pensar e de criar rompendo, portanto, com a ideia de um ser que se apequena diante do indecifrável ou de uma explicação mística ou sobrenatural dos fatos, da natureza, de deus e do próprio ser humano.
As posições de Deus e Adão, a pintura do braço direito de Deus e esquerdo de Adão muito se assemelham sendo, portanto, fidedigno ao descrito no livro do Gênesis 1:27, "Deus criou o homem a sua e semelhança". O dedo indicador de Adão teve que ser pintado novamente em razão de uma dano provocado por um desabamento ocorrido no século XVI.
Ao final de quatro anos de agonia, sofrimento e êxtase, Michelângelo concluiu a sua obra. No dia 2 de novembro de 1512, o artista retirou os andaimes que encobriam a perspectiva total da obra, permitindo a presença do papa à capela, para que pudesse ver o resultado. A pintura trazia toda a trajetória humana.
Trezentos personagens do Antigo Testamento desfilavam pela abóbada da capela. Júlio II foi o primeiro a ter a visão de um esplendor criativo de beleza e genialidade jamais pensadas até então, imagem que conquistaria milhões de visões por mais de cinco séculos, atraindo e fascinando pessoas de todas as raças, credos e ideologias.
Trezentos personagens do Antigo Testamento desfilavam pela abóbada da capela. Júlio II foi o primeiro a ter a visão de um esplendor criativo de beleza e genialidade jamais pensadas até então, imagem que conquistaria milhões de visões por mais de cinco séculos, atraindo e fascinando pessoas de todas as raças, credos e ideologias.
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